Avião que caiu em Vinhedo voou entre 8 e 10 minutos sob gelo severo, aponta satélite

Publicado em: 15 de agosto de 2024

Uma análise de satélite aponta que o avião da Voepass que caiu na última sexta-feira (9) em Vinhedo voou entre oito e dez minutos dentro de uma formação de gelo severo —uma condição climática que o manual da fabricante classifica como de “emergência” e que pode levar a aeronave, um ATR 72-500, a perder sustentação e girar.

Entenda a condição crítica enfrentada pelo avião:

  • O manual da aeronave diz que “gelo severo indica que a taxa de acumulação é tão rápida que os sistemas de proteção de gelo falham em remover a acumulação de gelo (1 centímetro em menos de 5 minutos)”.
  • Ainda de acordo com o manual, “a equipe precisa sair dessa condição imediatamente“.
  • A análise do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Ufal, estima que o avião da VoePass tenha ficado de 8 a 10 minutos sob gelo severo. “É um tempo considerável para uma condição extremamente desfavorável”, disse o meteorolista Humberto Barbosa.
  • Um laudo ao qual o jornal O Globo teve acesso mostra ainda que o avião esteve com o sistema de degelo inoperante em pelo menos seis ocasiões em três dias de julho de 2023. A empresa diz que o mecanismo funcionava no dia do acidente.
  • A aeronave tem luzes na cabine para alertar a tripulação sobre o impacto do gelo. Quando a exposição ao gelo persiste, o avião perde sustentação; o sinal visível dessa condição é o manche tremer. A saída de pilotos em condição sob gelo é algo treinado em simuladores, disse um instrutor de ATR ao g1.

Quando o gelo severo acumulado nas superfícies de voo, como as asas e o estabilizador horizontal, não é removido pelo sistema antigelo, ele pode “degradar seriamente a performance e controlabilidade da aeronave”, diz o manual obtido pelo g1.

A reconstituição do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas, revela que o avião da VoePass enfrentou uma zona meteorológica crítica e atravessou nuvens com temperatura abaixo de -40 °C.

O laboratório combinou imagens de satélites e radar, associadas às coordenadas geográficas da rota do voo. O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis, disse “ficou assustado” quando olhou as condições meteorológicas do estado de São Paulo no dia 9.

“Naquela rota, o plano de voo ia pegar uma situação crítica, não só pela área de formação de gelo severa, porque você tinha essas condições termodinâmicas, mas também de ventos nessa região que estavam sendo alimentados por outros sistemas”.

O estado já estava sob influência de uma frente fria, mas ele percebeu que havia outros componentes impactando as variáveis do local. Barbosa explicou que dois fatores ajudaram a “injetar” ainda mais umidade na região do acidente:

  • Ciclone extratropical: fenômeno se formou sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul na manhã da sexta-feira;
  • Fumaça das queimadas: foi levada pelo Sudeste pelo ar seco da Amazônia, e ficou nos altos níves da atmosfera, em forma de aerossóis, o que deixou a água das nuvens ainda mais fria e líquida.


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