Frente debate Estatuto da Pequena Empresa em Linhares

Publicado em: 19 de agosto de 2024

Na segunda edição da série de audiências públicas realizadas pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo Capixaba (a primeira foi em São Mateus, no dia 1º de agosto), empresários de micro e pequenas empresas lotaram o auditório do Sebrae em Linhares, região central do Estado.

A reunião foi realizada na última quinta-feira (15) e conduzida pelo presidente da Frente, deputado Alexandre Xambinho (Podemos), ao lado do diretor-geral da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), Alberto Gavini; do Gerente da Unidade de Ambiente de Negócios e Acesso ao Crédito do Sebrae, Eduardo Simões; e do secretário municipal de Modernização da Gestão de Linhares, Jobis Buffon.

Participaram da audiência empresários de micro e pequenos negócios, microempreendedores individuais (MEI), representantes de associações comerciais e empresariais, profissionais de contabilidade, administração e direito, além de técnicos e analistas da Aderes e do Sebrae, instituições parceiras da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) na realização dos debates. Os participantes eram de Linhares, Rio Bananal, Aracruz, João Neiva, Sooretama e até de municípios da Grande Vitória, como Cariacica.

O objetivo da série de encontros é ouvir sugestões dos gestores, com vistas à atualização da Lei Complementar (LC) 618/2012, que institui o Estatuto Estadual da Microempresa, da Empresa de Pequeno Porte e do Microempreendedor Individual.

A lei foi elaborada em harmonia com a Lei Complementar Federal 123/2006, que estabeleceu normas gerais para tratamento diferenciado ao setor. Mas, ao longo dos 12 anos de vigência da LC 618/2012, muitas mudanças ocorreram, gerando uma necessidade de atualização e modernização das normas, sobretudo relacionadas ao comércio eletrônico, à inteligência artificial, à expansão de franquias e à criação e ao aumento das startups.

Atualização da lei 

Ao dar início à audiência, o deputado Alexandre Xambinho ressaltou a importância de ouvir quem está diretamente ligado ao assunto para aperfeiçoar a legislação atual. Xambinho lembrou que a Frente Parlamentar promotora dos debates é a única que conta com o apoio e a participação dos 30 parlamentares da Ales, tamanha é a importância do setor.

“A Assembleia entende que é o microempreendedor que impulsiona a economia do estado e é um grande gerador de emprego e renda. Por isso, queremos ouvir vocês, para construir uma lei forte e que contemple as necessidades e os anseios do segmento”, relatou o parlamentar.

Xambinho também lembrou que, em 12 anos de vigência da lei atual, as mudanças foram significativas, tanto em relação à tecnologia, como nas questões fiscais, acesso a créditos, entre outros aspectos que envolvem a gestão dos pequenos negócios.

O parlamentar também falou sobre a importância de Linhares no cenário do desenvolvimento capixaba: “O município não para de crescer, se desenvolve cada vez mais. Todo dia é uma empresa nova, uma indústria diferente. Temos um ambiente administrativo e jurídico seguro que atrai pessoas até de fora para montar seus negócios aqui no estado e nessa região central do Espírito Santo”, comemorou.

Já o diretor-geral da Aderes fez um panorama das alterações legais que, ao longo das décadas, beneficiaram o setor dos pequenos negócios. Para Gavini, todas as conquistas foram alcançadas graças ao diálogo e à construção coletiva dos regramentos legais, “por isso, para promover uma nova mudança na legislação atual, estamos abertos e querendo ouvir quem mais tem interesse no assunto, os micro e pequenos empreendedores”.

O diretor ainda lembrou que as alterações são extremamente necessárias no cenário atual, de avanço tecnológico, inteligência artificial, desenvolvimento sustentável, entre outras questões que impactam os negócios atualmente.

Segundo o diretor, até mesmo as sugestões que não puderem ser contempladas pela lei estadual, por serem de competência federal, por exemplo, serão levadas para quem couber proceder as adaptações necessárias, como o Congresso Nacional.

Gavini reforçou que é imprescindível atender às demandas dos pequenos negócios, “setor que atualmente é responsável por cerca de 70% dos empregos formais oferecidos, inclusive vagas de trabalho para os mais novos e os idosos, faixas etárias que encontram mais dificuldade de obter colocação profissional nas grandes empresas”.

Propostas

Uma das questões abordadas durante a audiência foi a dificuldade na contratação de mão de obra, apontada como um dos grandes problemas na gestão dos negócios. Para o empreendedor de Linhares, Elber Tesch, é muito difícil encontrar pessoas para contratação, principalmente profissionais qualificados. Tesch explicou que uma das estratégias adotadas pelos pequenos empreendedores locais é utilizar os serviços de presos, que trabalham como forma de redução de pena e de ressocialização.

No entanto, até mesmo essa alternativa tem sido dificultada, porque as grandes empresas também estão utilizando a mesma estratégia e a competição fica ‘desleal’ para os proprietários de pequenos negócios, de acordo com Tesch.

Problemas em relação a diferenças na tributação entre municípios também foram apontados como gargalos para a gestão dos pequenos negócios.

Na avaliação do presidente da Associação dos Contadores de Cariacica, Bruno Ribeiro, é difícil obter equilíbrio fiscal quando há diferentes cobranças em municípios às vezes vizinhos. “Os pequenos empresários não conseguem equilibrar o preço de venda, contratar uma mão de obra mais qualificada e melhor assalariada, porque acabam tendo prejuízos por essa falta de padronização na tributação”, alertou Ribeiro.

Outro ponto sugerido durante a audiência visa facilitar a obtenção de documentação legal municipal para a criação e funcionamento dos pequenos negócios.

O empreendedor Cimá Guizani afirmou que, na Junta Comercial, o processo de abertura é muito rápido, de um dia para o outro, mas nas prefeituras a documentação costuma demorar até 30 dias, por burocracia que, na sua análise, atrapalha os pequenos negócios. Guizani sugeriu que a nova lei estabeleça um prazo menor para que toda a documentação, tanto no âmbito estadual e principalmente nos municipais, seja liberada.

Educação

A educação empreendedora também esteve na pauta do debate. O professor Samuel Messias, gerente de projetos especiais da Aderes, ponderou que é necessário incluir nos currículos escolares disciplinas que contenham ensinamentos sobre como empreender, para que os negócios avancem com conhecimento e formação. “Não vamos ter sucesso se começarmos a resolver o problema a partir do meio da escada, precisamos começar a preparar os futuros empreendedores desde a base, no ensino fundamental”, sugeriu Messias.

Também houve demanda para que a próxima lei amplie os limites de faturamento das pequenas e micro empresas e dos MEI, já que, após 12 anos de vigência da legislação estadual, os valores ficaram extremamente defasados, limitando a atuação do segmento.

Sobre alguns dos pontos abordados durante a audiência, o presidente da Frente Parlamentar afirmou que, além de inserir dispositivos na lei para atender às demandas, o colegiado também vai buscar entendimento com o governo do Estado e autoridades municipais. Com o Executivo estadual, o objetivo é tratar de ampliação e fortalecimento de programas de formação profissional, como o QualificarES.

Já com as prefeituras pode-se tratar da questão de equivalência tributária e também a busca por mecanismos para garantir mais rapidez na emissão dos documentos aos empreendedores, além de diálogo com as secretarias de Educação, com vistas a incluir conteúdos relacionados ao empreendedorismo nos currículos escolares.

Próximos encontros

Outros dois debates serão realizados pela Frente Parlamentar. As datas previstas são 29 de agosto, em Cachoeiro de Itapemirim, e 12 de setembro, na Serra. Já entre os dias 23 e 25 de setembro o grupo de estudos designado para avaliar e condensar as sugestões se reúne em Vitória para trabalhar na elaboração do texto do projeto de lei.


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